Como tratar um trauma emocional

Já ouviu essa palavra: Trauma emocional?

Qual é a primeira imagem que vem à sua mente?

Provavelmente de alguém sofrendo algum acidente ou de uma situação de violência (física ou psicológica) que provocou uma emoção intensa.

Geralmente associamos a palavra “trauma” a fatos ocorridos no passado, que acabaram deixando cicatrizes físicas reais e/ou feridas emocionais.

E realmente situações como as descritas acima (acidentes, violência) podem gerar um “trauma emocional”. Digo pode gerar, porque a experiência traumática em si é só uma parte do todo.

Além da experiência traumática, existem fatores que perpetuam o sofrimento relacionado àquele evento. E o sofrimento pós-evento tende a ser maior e mais duradouro do que o evento traumático em si… Veja, a experiência negativa é um fator importante, mas a intensidade e continuidade do sofrimento é potencializado por outros fatores como autocrítica, culpa, medo do julgamento dos outros.

Levando isso em consideração, quando pensamento em tratar um trauma sob o aspecto emocional, temos pelo menos 6 dimensões que precisam ser avaliadas:

  1. História de vida antes do evento traumático.
  2. O momento traumático em si.
  3. Revivescências do trauma. São rememorações, mais do que só lembranças do evento traumático.
  4. Autojulgamento – sobre a experiência traumática. Aquilo que a pessoa acha que deveria ter feito, ou que poderia ter feito…
  5. Medo sobre o julgamento dos outros em relação ao momento do trauma. O que as pessoas pensaram sobre a “vítima” do trauma no momento do ocorrido.
  6. Reflexões e medo sobre o que as pessoas pensarão no futuro sobre a vítima do trauma. Aquilo que o sujeito acha que as pessoas pensarão no futuro, por ter tido aquela experiência.

Muitas dessas percepções são inconscientes, interferem no comportamento da pessoa de forma insidiosa e só serão devidamente tratadas quando abordadas de forma direta.

Ao avaliar a história de vida é possível saber se algo parecido já aconteceu antes e perceber padrões de comportamento e de resposta emocional. Isso ajuda a compreender por que esse evento em específico foi tão significativo.

A análise do evento traumático em si, permite avaliar se havia alternativas melhore reais viáveis naquele exato instante. E acredite não havia. Isso é fácil de entender: Se houvesse uma alternativa melhor, viável naquele exato instante, a pessoa teria feito essa escolha.

O que acontece é que ao analisar o momento do trauma depois do ocorrido é muito comum as pessoas pensarem: “Ah, mas se eu tivesse agido diferente, com certeza isso não teria acontecido”. Mas se esquecem de um detalhe importante: essa pessoa não sabia de antemão qual seria o desfecho. E é fácil comentar e achar soluções mágicas depois de saber o desfecho.

E esse pensamento: “Eu deveria ter feito diferente” é uma das fontes inesgotáveis de sofrimento pós-trauma. A autocrítica pejorativa e depreciativa, o ato de se culpar, achando que existiriam opções melhores, embora elas não estivessem realmente disponíveis naquele exato momento, faz a pessoa mergulha em um poço sem fundo de ruminações mentais e revivescências emocionais cada vez mais intensificando um padrão limitante de comportamento.

O medo do julgamento dos outros tanto no momento do trauma quanto em relação ao futuro gera vergonha, o que faz com que a pessoa acabe se isolando e em alguns casos até atentando contra a própria integridade física.

É comum que algumas dessas dimensões tenham um peso maior do que outras, por exemplo uma pessoa que cai no chão, machuca o joelho e suja toda a roupa em uma festa chique, acaba se criticando de uma forma intensa por ter “dado esse vexame” e sofre mais com a vergonha, com o medo do julgamento dos outros do que com o trauma físico em si.

E em uma situação como essa, não basta só olhar para o fato traumático, querer descaracterizá-lo e minimizar a sua importância. É necessário olhar para toda a cadeia de autojulgamentos.

Então quando se pensa em tratar um trauma, é fundamental identificar padrões de pensamento, crenças, respostas emocionais, fatos semelhantes na história de vida, que fizeram com que o evento traumático tivesse tamanha relevância e avaliar inclusive se existe algum substrato biológico (como desequilíbrios hormonais, alteração na função de neurotransmissores) que precisa ser tratado em conjunto.

Ressignificar os fatos mais relevantes sob o aspecto emocional é um passo fundamental nesse processo e auxilia a pessoa a ter respostas emocionais mais amenas e com isso fica mais fácil olhar para o evento traumático pela ótica do aprendizado e não só do sofrimento.

Pode parecer complexo, e em alguns casos realmente é.

E saber disso é importante para refletir sobre quão importante é a escolha do caminho que será utilizado para tratar as marcas que ficam por eventos que muitas vezes estão absolutamente fora do seu controle.

E se precisar de ajuda, é só chamar!

Veja também